Nós umbandistas temos uma grande responsabilidade nas mãos. Apesar do Brasil ser oficialmente um país laico, suas instituições, incluindo as escolas, serem laicas pela lei, sabemos que não é bem isso o que acontece. Temos plena consciência de que não somos a maioria na sociedade e, justamos por sermos minoria, é que temos que saber como nos defender. Orientar nossas crianças é fundamental, para que não sejam vítimas de preconceito ao declarar a sua religião ou a religião de seus pais.
Assim como o negro deve assumir com orgulho a sua negritude, assim como como estrangeiro deve assumir a sua identidade cultural diversa, assim como o homossexual deve assumir sem medo a sua condição, nós umbandistas também devemos assumi - e com muito orgulho - a nossa religião.
Alguns dirão que não assumem porque a sociedade é preconceituosa. Pois esse preconceito ficará cada vez mais forte enquanto nos escondermos sob esse argumento. Filhos de umbandistas não precisam esconder a religião que seus pais praticam. E não devem (e nem podem) ser discriminados por isso. Portanto, já passou do tempo de orientarmos nossos filhos quanto a isso. Quanto a se defender da ótica preconceituosa que lançam sobre nós. É preciso orientar as crianças sobre como agir em caso de preconceito. Aliás, não somente em relação ao preconceito, mas caso sejam aliciadas e/ou intimidadas por seguidores de outras religiões.
Jamais vou exigir que meu filho seja umbandista. Essa será (ou não) uma opção dele. Mas também não quero que o tentem converter a outra religião. Isso também será opção dele. Mas enquanto estiver sob a minha tutela, como pai vou ensinar os meus valores. Vou ensinar que existe um Deus supremo, seus orixás e entidades que trabalham para o bem. Assim como o católico leva o seu filho à missa, vou levar o meu á gira, para que ele saiba o que o pai dele faz. E mais, para que saiba que o que o pai dele faz não é errado e nem coisa do demônio, como certamente alguém dirá a ele um dia. E quero que ele tenha argumentos para se defender e para me defender.
Acredito que ensinar que nossa religião é voltada à prática do bem e da caridade e que visa a própria evolução enquanto ser humano, é primordial. Se tento ensinar aos meus filhos-de-fé o quanto a Umbanda é uma religião bonita, por que não farei isso com o meu filho de sangue? Sinto-me no dever de mostrar isso a ele. E isso não significa impor valores, significa mostrar a realidade que vivo.
Se o católico manda seus filhos para o catecismo, se o protestante manda os seus para a escolinha dominical, por que não posso ensinar ao meu filho a beleza da minha religião? E mais que isso, deve ensiná-lo a se defender do preconceito que terão sobre ela e sobre quem a pratica. Tenho que ensiná-lo que a escola é laica e não pode tratar a nossa religião como folclore. Tenho que ensinar que o Estado e todas as suas instituições são laicas. Tenho que ensiná-lo através do exemplo que sou umbandista e que isso me ajuda a ser uma pessoa de bem e que faz o bem, para que ele cresça acreditando na própria potencialidade de trabalhar na prática do bem, sendo umbandista ou não.
Douglas Fersan
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